Movimentações bilionárias sob suspeita: o relatório do COAF sobre Nelson e Anne Willians.
- MOSTB Editora

- 24 de out.
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Atualizado: 8 de nov.
Conta recebe depósitos de caixas eletrônicos, considerados áreas de risco...

Um relatório interno do COAF aponta que o escritório de advocacia do advogado Nelson Wilians movimentou cerca de R$ 4,3 bilhões entre 2019 e 2024 em operações consideradas “suspeitas”, segundo os dados que foram enviados à Polícia Federal (PF) no âmbito da investigação da Lei 13.260/16 (antirrublagem) e em operações de lavagem de dinheiro. Essa movimentação maciça está sendo investigada especialmente pela operação denominada Operação Sem Desconto, que apura irregularidades em descontos indevidos feitos sobre benefícios da Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
De acordo com os dados públicos:
Entre outubro de 2019 e junho de 2020, foram movimentados aproximadamente R$ 581,7 milhões.
No período entre setembro de 2021 e abril de 2022, o valor atingiu cerca de R$ 1 bilhão em créditos (R$ 529,8 milhões) e débitos (~R$ 522,8 milhões).
Entre outubro de 2023 e julho de 2024, considerado o auge das operações investigadas contra o INSS foram movimentados cerca de R$ 883 milhões pelo escritório.
O COAF destaca que parte dos pagamentos foi feita ao empresário Maurício Camisotti, apontado pela investigação como possível beneficiário final do esquema de associações que realizavam descontos indevidos em aposentadorias. Segundo nota do escritório de Nelson Wilians, as operações financeiras são “plenamente compatíveis com a estrutura e a atuação do escritório” e que “não guardam qualquer relação com investigações sobre fraudes ou eventuais práticas criminosas”.
As suspeitas sobre Anne Wilians e os mecanismos de alerta. Embora o foco principal da cobertura recente seja o advogado Nelson Wilians, circulam relatórios que citam também a esposa, Anne Wilians, em movimentações que despertaram atenção do COAF. Conforme reportagem da Revista Veja, um banco relatou ao COAF que parte da renda do casal via empresas que seriam de controle de Nelson e de Anne vinham de depósitos em caixas eletrônicos de áreas consideradas “de risco”, como favelas do Rio de Janeiro, zonas de fronteira e regiões com alta incidência de transações informais. No mesmo documento, consta que Anne constava como “do lar”, com renda declarada de aproximadamente R$ 1 000 mensais, durante o período em que se movimentaram valores de milhões de reais em transferências e saques fracionados.
Esses indícios caracterizam o que o COAF classifica como operacionalidade atípica: transações em espécie, fracionamento de saques, uso de caixas eletrônicos em áreas de alto risco e movimentações muito acima do perfil declarado do titular da conta. Embora isso não configure, por si só, crime, constitui base para investigação aprofundada pelas autoridades competentes.
A investigação que ganhou força em 2025 sobretudo com a deflagração da Operação Sem Desconto, mira esquemas que teriam lesado aposentados e pensionistas do INSS por meio de associações que contratavam correspondentes, realizavam filiações indevidas e aplicavam descontos sem o consentimento ou sem transparência adequada. O empresário Camisotti é apontado como um dos articuladores do esquema. Em 25 de setembro de 2025, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do INSS (CPMI) aprovou o pedido de prisão preventiva e quebras de sigilo bancário e fiscal de Nelson Wilians, descrevendo “riscos de obstrução da investigação e continuidade delitiva”. Durante seu depoimento à CPMI em 18 de setembro de 2025, Wilians optou por permanecer em silêncio, amparado por habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Se confirmado que há conexão direta entre as movimentações apontadas pelo COAF e o esquema investigado, estaríamos diante de um dos maiores escândalos financeiros dos últimos anos no âmbito da seguridade social no Brasil com implicações de segurança, justiça e proteção social para milhões de aposentados. Por outro lado, é necessário destacar que, até o momento, Nelson Wilians não foi formalmente acusado ou denunciado criminalmente por conta específica dessas movimentações (ao menos conforme as matérias públicas até aqui). O fato de o COAF ter enviado “Relatórios de Inteligência Financeira” (RIFs) à PF significa que há base estatística e operacional para investigação, mas não significa, automaticamente, culpabilidade ou condenação.
Documentos sobre o caso...
Relatório de Inteligência Financeira (RIF) de Anne Carolline Wilians . No portal da CPMI — seção “Documentos Recebidos” — consta a entrada de um relatório do COAF com a ementa:
“Encaminha Relatório de Inteligência Financeira (RIF) de Anne Carolline Wilians Vieira Rodrigue. Documento sigiloso em virtude de conter dados de sigilo bancário — Lei Complementar 105/2001.” Legis Senado
O documento é classificado como sigiloso, o que impede o acesso público irrestrito, mas confirma que a CPMI requisitou oficialmente o RIF em nome de Anne.
Requerimento de quebra de sigilo de Nelson Wilians - Há um requerimento formal da CPMI em formato PDF solicitando quebra e transferência digital dos sigilos bancário e fiscal de Nelson Wilians Fratoni Rodrigues no período entre janeiro de 2019 e julho de 2025. O requerimento detalha que sejam incluídas contas, investimentos, cartões de crédito, declarações de imposto de renda, entre outros bens e valores.
Esse documento confirma que há empenho institucional para acesso a documentos financeiros completos de Wilians, o que reforça a seriedade das investigações.
Requerimentos da CPMI envolvendo o pedido de prisão preventiva e quebra de sigilo
No rol de requerimentos da CPMI, há aprovação de pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal de Wilians, com tramitação de requerimentos correlatos.
Há também cobertura jornalística de que a CPMI aprovou o pedido de prisão preventiva do advogado, junto com a autorização para quebras de sigilo e pedidos de RIFs ao COAF.
A aprovação desses pedidos está sendo encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF), uma vez que autorizações de prisão e quebras de sigilo requerem respaldo judicial.
Convocações de familiares, sócios e pessoas próximas
A CPMI também já confirmou convocações de familiares e sócios dos investigados, o que reforça que o escopo da investigação não se limita ao advogado, mas abrange toda a rede de relações que possam estar conectadas às movimentações financeiras questionadas.
Análise dos avanços. O que esses documentos confirmam
Menção oficial a Anne Wilians: o fato de haver um RIF de Anne protocolado mostra que a investigação já considera movimentações dela como parte do conjunto de apurações. Ainda que o documento seja sigiloso, a sua existência pública reforça a hipótese de participação ou envolvimento financeiro indireto.
Quebra de sigilo ampla sobre Nelson: o requerimento que pede acesso a todos os dados bancários, fiscais, investimentos, cartões e outros bens revela que a CPMI pretende montar um panorama completo de riqueza, fluxo de recursos e destino de valores.
Obrigatoriedade de decisões judiciais: apesar dos requerimentos, muitos documentos estão sob sigilo ou dependem de aval judicial (esp. para prisões e quebras de sigilo), o que impede a divulgação imediata de todos os detalhes.
Estrutura de investigação ampla: o fato de convocar familiares e sócios sugere que a comissão está buscando não apenas as operações centrais, mas todos os elos da cadeia financeira investigada.
Estamos acompanhando. Ser investigado não é ser culpado mas se há provas, então há crimes a serem enfrentados. O caso levanta questionamentos profundos sobre a imagem e a realidade por trás de certos nomes da alta sociedade. O que pensar de uma família que se apresenta como exemplo de moral, religiosidade e perfeição, com filhos “modelo” e uma agenda pública voltada à assistência social, mas que agora se vê sob o olhar atento das instituições que combatem a corrupção e o uso indevido de recursos?
Entre aparências e fatos, o tempo e as provas dirão se a imagem construída com tanto zelo resiste à verdade dos bastidores.
Texto: mostb.com



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