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Brasil em Colapso: A Realidade Ignorada por Narrativas Superficiais



Enquanto o Brasil enfrenta uma das piores crises sociais e financeiras de sua história recente, parte da opinião pública e setores políticos desviam o foco para bodes expiatórios convenientes. A recente Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre jogos de azar, por exemplo, tem concentrado suas atenções em influenciadores digitais, como Virgínia Fonseca, atribuindo-lhes a responsabilidade por tragédias pessoais ligadas ao vício em apostas. Essa abordagem, além de simplista, ignora as raízes profundas dos problemas que assolam o país.


Uma Crise Econômica Profunda e Real

Entre 2022 e 2025, a inflação dos alimentos essenciais corroeu severamente o poder de compra das famílias brasileiras. A cesta básica nacional subiu aproximadamente 46%, saindo de R$ 250,00 no fim do governo Bolsonaro para cerca de R$ 365,00 em 2025. Entre dezembro de 2023 e dezembro de 2024, o preço da cesta básica saltou de R$ 302,24 para R$ 345,23, um aumento de 14,22%. Produtos fundamentais como o café torrado e moído tiveram uma alta assustadora de quase 40% em 2024, óleo de soja subiu mais de 29%, leite longa vida quase 19%, carne bovina 25%, pernil suíno 20%, e o frango congelado mais de 8%.


Os aumentos não ocorrem de forma homogênea pelo país. Em Salvador, por exemplo, o custo da cesta básica alcançou R$ 590,37 em janeiro de 2025, com produtos como cenoura e cebola disparando 77% e 39%, respectivamente. Já em São Paulo, a cesta básica atingiu R$ 851,82, o equivalente a 60% do salário mínimo oficial de R$ 1.518. Para famílias que já vivem com salários próximos do mínimo, isso significa um aperto ainda maior na alimentação e no orçamento doméstico, comprometendo saúde e dignidade.


O Rombo da Previdência e a Má Gestão Pública

Enquanto famílias penam para pôr comida na mesa, o país convive com rombos bilionários nas contas públicas. O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) fechou 2024 com um déficit histórico de R$ 320 bilhões, resultado da combinação entre fraudes, má gestão e uma estrutura previdenciária insustentável. Casos recentes, como a Operação Sem Desconto, que revelou descontos indevidos em aposentadorias e pensões, causaram prejuízos de bilhões a milhões de brasileiros.

Além disso, a desigualdade dentro do sistema é escancarada pelos dados do gasto per capita: o déficit médio da previdência dos militares é mais de 18 vezes superior ao dos aposentados do INSS, consumindo recursos públicos desproporcionalmente e sem transparência.


Impactos Sociais Graves: Mortes e Sofrimentos Invisíveis

Paralelamente à crise econômica, o Brasil convive com um aumento alarmante de mortes e sofrimentos relacionados ao alcoolismo, uso de drogas e doenças mentais. Entre 2023 e 2024, o Ministério da Saúde registrou cerca de 45 mil mortes anuais relacionadas ao consumo abusivo de álcool — incluindo doenças hepáticas, acidentes de trânsito e violência e aproximadamente 30 mil mortes por overdose de drogas ilícitas e prescritas.


Acidentes de trânsito continuam a ser uma das principais causas de óbitos no país, contabilizando mais de 40 mil mortes em 2024, segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Grande parte desses acidentes está associada ao consumo de álcool e substâncias psicoativas, que continuam a ser um desafio para a fiscalização e prevenção.


O estresse financeiro causado pela inflação e desemprego agrava quadros de depressão e ansiedade, que frequentemente levam ao consumo abusivo de substâncias e a comportamentos impulsivos. O consumo superficial e desenfreado, impulsionado pela cultura das redes sociais, somado a um cenário de desinformação, gera dívidas e desequilíbrios pessoais. Muitas famílias se veem presas a um ciclo de endividamento e privação, agravando a saúde mental e o bem-estar social.


Jogos de azar, embora sejam um problema real que precisa de atenção, não explicam isoladamente o aumento de mortes por overdose, suicídio e doenças crônicas agravadas pelo consumo abusivo de álcool e drogas. A falta de políticas públicas robustas para saúde mental e assistência social contribui para que esse quadro se agrave silenciosamente, enquanto o debate público se perde em acusações superficiais.


A Distração das Narrativas Superficiais

Em meio a esse cenário de crise estrutural, a CPI dos jogos de azar e parte da opinião pública preferem culpar influenciadores digitais como Virgínia Fonseca por problemas sociais muito mais complexos. Essa simplificação do debate público funciona como distração, desvia a atenção do essencial: o uso indevido do dinheiro público, a falta de políticas públicas eficazes e a ausência de reformas estruturais que poderiam reduzir desigualdades e restaurar o equilíbrio fiscal.

Enquanto se debate quem tem culpa na internet, milhares de brasileiros não têm acesso ao básico: alimentos, saúde e segurança. Culpar figuras públicas e digitais é um expediente fácil e vazio que não contribui para resolver problemas reais e urgentes.


O Brasil está em plena decadência social e financeira, consequência direta da má gestão do dinheiro público, déficits previdenciários astronômicos e falta de compromisso com reformas necessárias. Os números da inflação dos alimentos e o custo da cesta básica são apenas um dos muitos sintomas de um país que precisa urgentemente de um debate sério e profundo.


Mais do que encontrar culpados individuais, é necessário enfrentar as causas estruturais da crise promovendo transparência, combate à corrupção, responsabilidade fiscal e políticas públicas que coloquem o povo brasileiro em primeiro lugar. Só assim poderemos evitar que o sofrimento se aprofunde e que vidas sejam perdidas por negligência social e econômica.


Texto: mostb.com





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